sábado, 30 de abril de 2022

Acontecimentos mais importantes da história do Cristianismo.

732 A Batalha de Tours

Se não fosse por Carlos Martelo, todos nós poderíamos estar falando árabe e nos ajoelhando na direção de Meca cinco vezes ao dia. 

Na região de Tours, Carlos Martelo e seu exército franco reverteram o imenso poderio dos exércitos islâmicos que varriam o norte da África e já invadiam a Europa. 

A Batalha de Tours foi importantíssima para a civilização ocidental.

A ascensão do islã é um dos mais incríveis movimentos da história. 

Em 622, os seguidores de Maomé [seu nome completo é Abulqasin Muhamed ibn Abn al-Muttalib ibn Ha-shin] eram apenas um bando de visionários perseguidos que se reuniam em Meca. 

Cem de anos depois, eles controlavam não apenas a Arábia, mas todo o norte da África, a Palestina, a Pérsia, a Espanha, partes da índia e ameaçavam a França e Constantinopla.

Como conseguiram isso? Conversão, diplomacia e uma força-tarefa altamente dedicada. 

Ε preciso dizer também que o decadente Império Romano deixou o território pronto para a colheita.

A religião de Maomé se desenvolveu em Meca, uma das duas maiores cidades árabes. 

Essa religião era fortemente monoteísta e legalista, mas bastante simples. 

Maomé afirmava ter recebido seu sistema diretamente de Deus (Alá) e dizia que Alá o designara para ser seu profeta. 

Os cidadãos de Meca se opunham aos novos ensinamentos de Maomé e tornaram a vida de seus seguidores bastante difícil. 

Desse modo, em 622, o profeta reuniu seu grupo e todos partiram para Medina (a outra grande cidade da Arábia). 

Essa viagem (denominada de hégira) marca o início do calendário muçulmano e o começo de sua incrível expansão.

Naquela época, a Arábia era um conjunto bastante diversificado de tribos nômades que guerreavam sempre umas contra as outras. 

O islã trouxe união, não apenas na religião, mas também na lei, na economia e na política. 

Quando Maomé morreu (632), houve diversas lutas internas entre seus possíveis sucessores. Mesmo assim, a fé se expandiu.

Em 636, os muçulmanos controlavam a Síria e a Palestina. Eles tomaram Alexandria em 642 e a Mesopotâmia em 646. 

Cartago caiu em 697, e os muçulmanos varreram o norte da África, ganhando territórios que permanecem em mãos muçulmanas até o dia de hoje. 

Em 711, cruzaram o estreito de Gibraltar e entraram na Espanha. 

Solidificaram rapidamente o controle da península Ibérica e atravessaram os Pireneus. 

Nesse meio tempo, os muçulmanos entraram na área do Punjabe, na India, e batiam às portas de Constantinopla.

Constantinopla era a capital do Império Bizantino, tudo que restou do outrora imponente Império Romano. 

Séculos antes, o Império Romano fora dividido entre o Oriente e Ocidente, e o Império do Ocidente caiu rapidamente diante das várias tribos germânicas — vândalos, ostrogodos e francos. 

O único poder que Roma possuía agora estava na igreja, e esse poder crescia. 

Por meio de missionários, como Agostinho na Inglaterra e Bonifácio na Alemanha, Roma ganhava a fidelidade espiritual em seus antigos territórios políticos.

A ameaça muçulmana combinava religião e poder político. 

O islã não apenas derrotou as autoridades políticas, mas conseguiu que as pessoas se convertessem e ofereceu a elas (ou forçou-as a receber) um novo sistema religioso.

Carlos Martelo era o líder dos francos, uma das tribos germânicas que atacaram o Império Ocidental. 

Os francos já tinham invadido a Gália em 355 e se converteram oficialmente ao cristianismo romano no reinado de Clóvis I (481 -511). 

Como os governadores francos anteriores, Carlos procurou usar a igreja para em seu benefício. 

Ele estava bastante feliz em apoiar os missionários romanos entre as outras tribos germânicas, pois isso poderia fazer avançar o poder franco na Alemanha. 

Contudo, também foi rápido em corromper a igreja franca para que pudesse se beneficiar dela. 

Embora possa ter salvo a igreja romana da ruína em Tours, ele sem dúvida lutou para proteger o território dos francos.

O general muçulmano Abd-ar-Rahman liderou suas tropas rumo ao norte, bem no meio do território franco. 

Carlos Martelo se encontrou com elas entre Tours e Poitiers e fez com que recuassem. 

Em uma série de acirradas batalhas, os francos empurraram os muçulmanos de volta para a Espanha, contendo seu avanço na Europa.

Ε certo que a bem-sucedida defesa de Constantinopla em 718 foi igualmente importante na contenção do avanço islâmico. 

Porém, para aqueles que têm sua origem na Europa Ocidental, a Batalha de Tours foi crucial. 

Se os muçulmanos fossem vitoriosos, poderiam ter caído mais tarde, pois conquistariam mais territórios do que seriam capazes. 

Quase tão incrível quanto sua rápida expansão, porém, é a maneira como os muçulmanos dominaram o território que haviam subjugado. 

Mesmo depois de mais de 1 200 anos, eles se mantêm como força poderosa no mundo, e os territórios que controlam permanecem resistentes ao testemunho cristão.

quinta-feira, 28 de abril de 2022

Acontecimentos mais importantes da história do Cristianismo.

731 Beda, o Venerável, conclui sua História eclesiástica da Inglaterra


Em uma época que não se destacou por sua erudição, Beda se sobressai como guia. 

O fato de ele ter sido chamado de “Venerável” testifica grande conhecimento e a estima que desfrutava.

Embora a confusão política tivesse efetivamente destruído muito da cultura, os mosteiros permaneciam como centros medievais de educação. 

Naqueles locais, rapazes aprendiam literatura, os amanuenses copiavam manuscritos antigos e homens estudiosos como Beda se entregavam aos textos. 

Os monges preservaram viva a sabedoria da Grécia e de Roma, com as obras dos pais da igreja. 

A vida caminhava a passos lentos nas dependências dos monasterios.

Além de ter sido um dos mais brilhantes pesquisadores de sua era, Beda também foi muito devoto. 

Em uma autobiografia bastante breve, narra seu nascimento nas vizinhanças dos mosteiros de Wearmouth e Jarrow, no norte da Inglaterra, no ano de 635. 

Aos sete anos, ele passou a ser tutelado pelo abade daquela região e viveu o restante de sua vida no mosteiro, jamais se aventurando fora de seus limites.

Embora a idade mínima comum para a ordenação ao diaconato fosse de 25 anos, Beda recebeu essa ordem aos 19, sem dúvida recomendado por sua piedade. 

Aos 30 anos, tornou-se sacerdote e passou o restante da sua vida escrevendo comentários bíblicos e outra obra ligadas à religião. 

Sua biografia parece mais um catálogo de seus livros que um relato de seus feitos.

A grande contribuição de Beda à igreja foi sua obra História eclesiástica da Inglaterra, que abrangia a história da Inglaterra desde os dias de Júlio César até os dias de Beda. 
Embora fosse, em muitos aspectos, uma história de propósito geral, o foco principal do livro era a cristianização da Inglaterra e a maneira pela qual o paganismo gradualmente dera lugar à nova religião.

O livro de Beda estava repleto de histórias de missionários valorosos e de chefes tribais e pagaos que finalmente viram a luz da verdade, embora o autor mantivesse um ceticismo saudável. 

Ε claro que, em uma era pré-científica, ele pode ter incluído qualquer tipo de história e poucos poderiam refutar seus relatos. 

Contudo, preocupado com a verdade histórica, Beda cita cuidadosamente suas fontes ao se referir a alguma testemunha confiável. 

Embora ele não tivesse dificuldades para acreditar em milagres, desejava registrar os que fossem verdadeiros, afastando-se das lendas de fundo puramente piedoso.

Ε que histórias ele conta! 

Júlio César e Cláudio, o papa Gregorio e o missionário Agostinho, a invasão das tribos dos anglos, dos saxões e dos jutos, tudo isso povoa suas páginas. 

Por intermédio dessa obra, conhecemos histórias maravilhosas como a de Gregorio, o Grande, que, ao ver meninos escravos de cabelos claros à venda em Roma, ficou tão tocado por sua beleza que nunca se esqueceu de seu desejo de evangelizar sua terra natal. 

Lemos também sobre o rei pagão Edwin, cujo conselheiro contou uma parábola comparando a vida a um pardal voando em um enorme refeitório e saindo rumo à escuridão. 

Ele, portanto, aconselhou o rei a se converter ao cristianismo, uma vez que dava alguma esperança de vida além do “vôo breve sobre a sala de banquete”.

A História de Beda contém algumas passagens singulares como esta: “Nenhuma cobra pode existir ali [na Irlanda], pois apesar de serem, com frequência, trazidas da Bretanha, tão logo o navio se aproxima da terra, elas respiram o perfume de seu ar e morrem. 

Na verdade, quase todas as coisas desta ilha concedem imunidade ao veneno”.

Porém, até mesmo os historiadores seculares não duvidam do cuidado de Beda como relator, pois continuam a observar que seus fatos estão corretos em praticamente todos os detalhes.

Antes de História eclesiástica da Inglaterra, as várias tribos inglesas tinham suas histórias, principalmente na forma de poesia paga, as quais eram muitas vezes recitadas por bardos. 

Mas Beda apresenta a história pelas lentes do cristianismo, mostrando que um grupo de diversas tribos se transformou em uma nação com uma única religião.

Em vez de destemidos heróis guerreiros como Beowulf, os heróis de Beda são santos, pessoas que dependem da graça de Deus. 

Com todos os outros historiadores medievais, ele deu à história um novo arcabouço: ela precisava ser a mais exata possível, mas também inspiradora.

Sem Beda, muitas dessas histórias teriam desaparecido com o passar dos tempos. 

A Inglaterra pode agradecer a esse venerável monge o fato de ter consciência de sua identidade como nação e de seu lugar como país cristão.

segunda-feira, 25 de abril de 2022

Acontecimentos mais importantes da história do Cristianismo.

716 Bonifácio parte para ser missionário


De maneira semelhante a Elias no monte Carmelo, Bonifácio, o missionário saxão da Inglaterra, posicionou-se contra o paganismo profundamente arraigado no coração da Alemanha. 


Ele tinha um machado em sua mão, e, diante dele estava a enorme Arvore do Trovão [um carvalho], um marco local que os pagãos diziam ser consagrado ao deus do trovão, chamado Donar. 

Até mesmo alguns dos que haviam se convertido ao cristianismo, por meio da pregação de Bonifácio, adoravam secretamente diante daquela árvore.

Bonifácio denunciou aquela adoração falsa de maneira audaciosa.

Como representante do verdadeiro Deus dos cristãos, destruiu o santuário maligno. 

Ele atingiu aquela árvore “sagrada” com seu machado e, surpreendentemente, a Arvore do Trovão caiu, causando grande barulho.

Assim diz a lenda. Se os detalhes são verdadeiros ou não, eles retratam de maneira justa a audácia de Bonifácio, sua fé e seu incansável desafio às falsas religiões.

Nascido de pais cristãos no ano de 680, em Wessex, seu verdadeiro nome era Winfrid. 

Foi instruído em um mosteiro beneditino e ordenado aos trinta anos de idade. 

Possuía grande capacidade de aprendizado e liderança. 

Poderia ter ficado na Inglaterra, estudando, ensinando e talvez até mesmo dirigindo um mosteiro. 

Porém, seu coração queimava por outros que ainda não faziam parte do aprisco cristão. Milhares de compatriotas saxões nos Países Baixos e na Alemanha precisavam ouvir o Evangelho.

Em 716, Winfrid parte para a Frísia, onde missionários ingleses já haviam trabalhado por várias décadas. 

O rei da Frísia, Radbod, se opunha ao cristianismo. A pressão foi grande demais, e Winfrid voltou à Inglaterra após fracassar em sua primeira missão.

Seus colegas beneditinos pediram que servisse como abade de seu mosteiro. 

Depois daquela angustiante experiência na Frísia, ele se sentiu inclinado a aceitar o convite. 

Contudo, a visão de Winfrid ainda estava voltada para fora. 

Viajou para Roma em 718 e ali recebeu um comissionamento missionário por parte do papa. 

Ele deveria ir mais longe no continente, passar além do Reno, estabelecendo a igreja romana entre os povos germânicos.

A maior parte da Alemanha já havia sido exposta ao cristianismo de uma maneira ou de outra, mas não existia nenhuma igreja forte ali. 

No século iv, as tribos germânicas se apegaram ao arianismo e o misturaram às suas superstições. 

Algum tempo depois disso, os missionários celtas fizeram alguns convertidos, que não deram continuidade à missão, no sentido de organizar uma igreja naquele lugar. 

O papa estava ansioso para que a igreja estabelecesse sua presença ali.

Winfrid foi primeiro à Turíngia para reavivar uma igreja ali enfraquecida. 

A seguir, ouvindo que seu velho inimigo Radbod morrera, retornou à Frísia. 

A autorização papal pode ter dado a Winfrid maior autoridade sobre os governadores locais. 

Ele trabalhou ali por três anos e depois se mudou para o sudeste, seguindo para Hesse.

Voltou a Roma em 723 e foi consagrado bispo, quando recebeu um novo nome: Bonifácio. 

A ele também foi dada uma carta de apresentação para ser levada a Carlos Martelo, rei dos francos. 

A bravura de Carlos, como militar, era muito conhecida (mais tarde, ele expulsaria os muçulmanos da cidade de Tours). 

Sua assistência foi um grande apoio para Bonifácio.

Voltando para Hesse, Bonifácio continuou seus esforços para eliminar o paganismo e construir a igreja. 

Foi nessa ocasião que ele, como se supõe, derrubou a árvore sagrada. 

Talvez, o fato responsável por impedir que os cidadãos atacassem Bonifácio tenha sido o temor a Carlos Martelo. 

Seja como for, o final da lenda é que o cristianismo se tornou a nova força a ser enfrentada na Alemanha. 

Se os deuses germânicos não podiam sequer manter uma árvore em pé, então havia pouco a oferecer se fossem comparados ao Deus de Bonifácio.

Bonifácio atraiu vários missionários da Inglaterra — monges e freiras que estavam ansiosos para trabalhar ao lado dele. 

Com a ajuda deles, Bonifácio estabeleceu uma vigorosa organização eclesiástica por toda a região.

Ironicamente, seu protetor, Carlos Martelo, frustrava as tentativas de reforma da igreja entre os francos. Carlos manteve a igreja naquele local sob seu controle, apoderando-se de suas terras e vendendo propriedades da igreja. 

Somente depois de sua morte, em 741, é que Bonifácio pôde assumir a igreja franca.

Em 747, Bonifácio viajou mais uma vez para Roma, onde foi nomeado arcebispo de Mainz e líder espiritual de toda a Alemanha. 

Contudo, como ele já passava dos setenta anos, estava ansioso para concluir os negócios ainda em aberto. 

Depois de renunciar a seu arcebispado em 753, voltou para a Frísia, onde começara seu trabalho missionário. 

Ali, chamou de volta alguns de seus primeiros convertidos — que haviam voltado ao paganismo — e mudou-se mais uma vez, indo agora para regiões não alcançadas.

No domingo de Pentecoste de 755, em Dackum, perto do rio Borne, ele planejou um culto ao ar livre que serviria para uma pregação e para a confirmação de novos crentes. 

Enquanto estava ao lado do rio, preparando-se para o culto, um grupo de arruaceiros caminhou na direção de Bonifácio. 

Várias pessoas se prepararam para lutar contra os baderneiros e expulsá-los de lá, mas Bonifácio gritou: “Meus filhos, parem com esse conflito […] não tenham medo dos que matam o corpo, mas que não podem matar a alma […] Recebam com firmeza este momentâneo sopro de morte para que vocês vivam e reinem com Cristo para sempre”. 

Diz-se que ele morreu com os evangelhos nas mãos.

Os críticos dizem que Bonifácio foi simplesmente um homem de organização, que a maioria de seu “trabalho missionário” foi basicamente político, fomentando a fidelidade à igreja romana nas áreas onde ela era fraca. 

É verdade que ele ajudou a lançar os fundamentos do Sacro Império Romano e as políticas do papado medieval. Devido a Bonifácio, a Alemanha foi uma fortaleza da igreja romana até a época da Reforma.

Não se pode, porém, questionar a devoção pessoal de Bonifácio, sua coragem e seu serviço fiel. 

O historiador Kenneth Scott Latourette disse: “Poucos missionários cristãos, se é que existiram, apresentaram por meio de sua conduta, de maneira tão precisa quanto Bonifácio, os ideais da fé que tentavam propagar. 

Ele era humilde, a despeito das tentações que vieram com as altas posições eclesiásticas; sempre se colocou muito acima dos rumores do escândalo; foi um homem de oração e que tinha autoconfiança; assim como era corajoso, abnegado e apaixonado pela justiça. 

Bonifácio foi um dos maiores exemplos de vida cristã”.

sábado, 23 de abril de 2022

Acontecimentos mais importantes da história do Cristianismo.

664 O Sínodo de Whitby

Havia dois cristianismos na Inglaterra. Um deles era celta, fortemente monástico, contemplativo e voltado às missões. 

O outro era romano, bem organizado e firmemente ligado ao restante da cristandade.


A missão de Columba a lona resultou no surgimento de uma expansiva comunidade de cristãos de estilo celta, que evangelizaram de maneira agressiva os anglos e os saxões. 
Pouco antes da morte de Columba, o papa Gregório enviou Agostinho e cerca de trinta outros monges para a Inglaterra a fim de evangelizar e fazer com que a igreja celta se conformasse com a igreja de Roma. 

O moderado sucesso de Agostinho concentrou-se especialmente em Kent e Essex. 


Em 627, Paulino de York estabeleceu a igreja romana na Nortúmbria, mas seus esforços logo fracassaram, quando um rei pagão chegou ao poder. 

Assim que foi restabelecida ali, a igreja já era celta.

Contudo, no começo do século vn houve um grande movimento de dupla polinização. 

As duas tradições não eram por demais diferentes entre si. 

A maior distinção entre elas era a data na qual celebravam a Páscoa. 

Embora seus monges também raspassem a cabeça de maneira diferente e houvesse algumas poucas divergências cerimoniais, não fundamentais, tudo era, na verdade, uma questão de poder. 

Será que o papa governaria a Igreja da Inglaterra, indicando quais bispos liderariam o povo? 

A tradição celta dava grande poder aos abades que, por sua vez, agiam de maneira bastante independente.

Em função de sua independência, os mosteiros celtas estavam muito vulneráveis aos abusos. 

No sistema feudal da Idade Média, era vantajoso estabelecer mosteiros falsos para evitar a subserviência aos senhores seculares. 

Esses mosteiros desfrutavam de independência econômica, mas careciam de motivação espiritual. 

Embora a igreja celta fosse grandemente conhecida por sua devoção espiritual, abusos como esses podem ter empurrado alguns crentes rumo à política romana, mais severa.

Em 664, o assunto foi levantado por Oswy, o novo rei da Nortúmbria, em uma reunião de cúpula. 

Ele seguia a tradição celta, mas sua esposa era da tradição romana. 

Desse modo, ele estaria celebrando a Páscoa enquanto a rainha jejuaria na Quaresma, e isso simplesmente não daria certo. 
Convocou uma assembléia na região de Whitby, em que a aba-dessa Hilda dirigia um mosteiro. 

Ali, o rei ouviu os argumentos de Cedd e Colman, pelo lado celta, e de Wilfrid e Tiago, o Diácono, pelo lado romano. Todos esses homens eram cristãos devotos. 

Cedd, que era abade, já fundara vários mosteiros. 

Colman e Wilfrid foram bispos. 

Wilfrid já servira até mesmo como missionário em Frísia. 

Tiago levara adiante a obra de Paulino na Nortúmbria durante os momentos difíceis.

Eles discordavam com relação à Páscoa. 

Os líderes celtas citavam Columba. 

Os líderes romanos citavam o apóstolo Pedro. 

Com um sorriso no rosto, o rei anunciou que seguiria a Pedro, uma vez que ele era o guardador das chaves do céu. 

O ponto de vista romano prevaleceu.

Alguns historiadores argumentam que a decisão provou ser a mais sábia. 

A igreja inglesa alcançou o melhor dos dois mundos. 

O espírito celta ainda estava bastante vivo, mas precisava da organização romana para se firmar. 

Outros lamentaram a perda da oportunidade de se ter uma importante tradição cristã separada e saudável.

Logo após o Sínodo de Whitby, alguns acontecimentos fizeram com que a situação ficasse amarga. 

Uma praga se abateu sobre a Inglaterra, mais ou menos na época em que o arcebispo de Cantuária morreu. 

Por cinco anos, a igreja passou por dificuldades em razão de não ter liderança. 

Então, Teodoro de Tarso chegou para assumir a posição. 

Agindo de maneira sábia, ele fortaleceu a liderança da igreja, indicando bispos e sacerdotes tanto da tradição celta quanto da romana. 

O século seguinte foi uma era de ouro na arte e na erudição na Bretanha, à medida que os estilos romano e celta se complementavam mutuamente. 

Muito disso foi destruído pelas invasões viquingues, mas diversas cruzes de pedra permanecem em pé, esculpidas tanto no estilo celta quanto no romano, simbolizando a interdependência dessas duas tradições

quinta-feira, 21 de abril de 2022

Acontecimentos mais importantes da história do Cristianismo.

590 Gregório I se torna papa

Embora não fosse mais a capital do império, Roma ainda possuía prestígio. 

Além do mais, a antiga cidade tinha ligações com os apóstolos Pedro e Paulo.

Por muitos anos, os bispos de Roma tentaram expandir o poder que conquistaram. Paulatinamente, a cidade alcançou posição de proeminência sobre as outras dioceses, e o bispo de Roma se tornou o papa.

Contudo, o homem que mais contribuiu para o incremento da autoridade e do poder do papado não fez isso buscando o ganho político. 

O humilde monge, que não procurava altos postos, chegou ao papado contra a própria vontade.

Gregorio nasceu em 540 de uma nobre família romana, que possuía uma história relacionada a serviços prestados na esfera política. 

Ele se tornou chefe da prefeitura de Roma, o mais alto cargo civil. Porém, não se sentia talhado para a vida pública e acabou renunciando, dividindo suas propriedades para a fundação de mosteiros, vindo a se unir a um deles posteriormente. 

Alguns anos mais tarde, ele mesmo se tornaria abade.

Sua piedade e, sem dúvida, seu passado de administrador habilidoso atraíram a atenção das pessoas. 

Em 590, quando o papa morreu, os romanos, de maneira unânime, pediram a Gregório que se tornasse seu sucessor. 

Embora Gregório se recusasse a fazê-lo, a vontade pública prevaleceu.

Como já fora um homem de Estado, o novo papa transpôs sua habilidade de governar para seu novo ofício. 

Quando os lombardos ameaçaram Roma, Gregório pediu ajuda ao imperador em Constantinopla. 

Como esse apoio não chegou, o bispo de Roma reuniu as tropas, negociou tratados e fez tudo o que era necessário para promover a paz. 

As ações independentes de Gregório provaram ao exarca do imperador (seu representante que estava em Rave-na), que o papa era bastante capaz para manter a ordem em Roma. 

Esses movimentos políticos se tornariam uma espécie de primeiros passos para a divisão dos cristãos nos impérios do Oriente e do Ocidente.

Gregorio, porém, não tinha ambições políticas. 

Seus interesses eram espirituais. 

Extremamente preocupado com o cuidado pastoral, insistia em que o clero visse a si mesmo como um grupo de pastores e servos do rebanho. 

Dizia que era “servo dos servos de Deus”, e sua obra intitulada Livro do cuidado pastoral — um estudo maravilhosamente criterioso sobre as provações espirituais das pessoas e a maneira pela qual o clero deveria lidar com elas — tornou-se uma espécie de livro-texto ministerial da Idade Média.

Outra obra sua, Diálogos, foi a primeira tentativa de hagiografía — biografia dos santos — que enfatizava o fantástico e o miraculoso, o que acabou por transformar os santos em uma espécie de super-heróis da época. 

Durante seu papado, a veneração de partes do corpo, de roupas e de outros pertences dos santos foi encorajada, e isso viria a se transformar em uma das principais características da piedade medieval. 

Por vários séculos, nenhuma igreja poderia se estabelecer se não tivesse alguma relíquia de um santo para ser colocada nela.

Embora Gregorio não afirmasse ser teólogo, algumas de suas crenças se tornaram essenciais para a teologia católica. 

Ele acreditava no purgatório e ensinava que as missas celebradas a favor dos mortos poderiam aliviar as dores dos que estavam naquele local. 

Além disso, ajudou a popularizar o ensino de Dionisio Areopagita, que escreveu sobre diversas categorias de anjos. 

Depois de Gregorio, essas idéias se tornariam grandemente aceitas.

Embora não tenha sido ele o criador do canto gregoriano, Gregorio era bastante interessado na música da igreja (o cantochão deve muito à sua influência).

Além disso, Gregorio autorizou uma missão evangelística à região de Kent, liderada por Agostinho, o missionário que, mais tarde, se tornaria o primeiro arcebispo da Cantuária. 

Embora o cristianismo já tivesse alcançado a Bretanha, ao enviar essa missão sob a liderança de Agostinho, o papa estava estendendo o poder de Roma àquelas ilhas. 

O cristianismo, que tinha em Roma sua liderança, começava a tomar forma.

O bispo de Constantinopla afirmava ser o Patriarca Ecumênico (no sentido de “universal” ou “global”).

Gregorio tanto se recusou a aceitar o uso desse título quanto o rejeitou para si mesmo. 

Tudo o que fez, porém, mostrou que Gregório via a si mesmo como o pastor-chefe de uma igreja mundial.

Em um espaço de 14 anos, Gregório realizou tantos feitos que as gerações posteriores o denominavam de Gregório, o Grande. 

Talvez ele tenha se tornado grande por ter sido um homem humilde.

segunda-feira, 18 de abril de 2022

Acontecimentos mais importantes da história do Cristianismo.

563 Columba vai à Escócia como missionário

Um irlandês evangelizou a Escócia. Seu nome era Columba — que quer dizer “pomba” — e ele nasceu em uma família de cristãos, em 521, no norte da Irlanda — hoje, o condado de Donegal. 

Depois de ter frequentado escolas monásticas, ajudou a estabelecer diversos mosteiros na

Irlanda e tornou-se conhecido por sua erudição e piedade.

Diz-se que, em mais de uma ocasião, Columba teve discussões com o chefe de seu clã, chamado Diamait. 

Embora fosse cristão, Columba era de temperamento impaciente, o que o levou a enfrentar muitos problemas. 

Nessa ocasião, parece que ele próprio foi a causa de uma batalha na qual morreram três mil homens. 

É claro que ele não tinha intenção de causar tamanho dano, mas, para sua segurança e para se penitenciar por seu erro, saiu da Irlanda, planejando converter o mesmo número de almas que supostamente levara à morte. Algumas fontes afirmam que ele também concordou em nunca mais voltar à sua terra natal.

Em 563, com doze amigos, Columba corajosamente lançou ao mar em uma currach, embarcação bastante popular na Irlanda. 

Eles se dirigiram a lona, uma ilha na costa ocidental da Escócia. 

Quando chegaram ali, os treze homens levantaram habitações simples e uma igreja de tábuas que foi usada como base para seus esforços missionários junto aos pictos, a tribo escocesa das vizinhanças.

Columba recorreu a Brude, o chefe de Inverness, mas Brude não queria nada com missionários. 

De acordo com as histórias que se contam, o chefe fechou os portões diante dos homens de Columba. 

Quando Columba fez o sinal da cruz, o portão se abriu e o chefe, apavorado, deu ouvidos à mensagem que eles traziam.

Os sacerdotes pagaos, os druidas, se opuseram aos missionários, mas não demorou muito para que os cristãos tivessem sucesso em evangelizar a Escócia e o norte da Inglaterra.

Columba continuou a viajar, mas, mesmo assim, também se tornou abade de um grande mosteiro em lona. 

Depois de sua morte, os abades dali mantiveram seu poder, tornando-se os mais elevados oficiais da Igreja da Escócia.

A partir de lona, os evangelistas se espalharam também para o continente, e os novos mosteiros criados na Europa se voltavam para o mosteiro daquela ilha em busca de orientação. 

Como resultado, lona ficou conhecida por sua erudição, piedade e evangelismo. 

Os víquingues atacaram repetidamente aquela comunidade, mas ela não sucumbiu. 

Nesse lugar estão enterrados 46 reis escoceses com o primeiro abade, embora os restos mortais de Columba tenham sido profanados diversas vezes pelas invasões viquingues.

Assim como aconteceu com os outros mosteiros durante a Reforma, o de lona também foi destruído. 

Em 1900, um duque escocês doou as terras à Igreja da Escócia. E, após 38 anos, uma comunidade de clérigos e leigos foi formada na ilha, a qual recebe hoje o apoio de milhares de membros associados ao redor de todo o mundo.

Na condição de erudito dedicado, Columba copiou livros e escreveu algumas obras. 

Ao defender a importância dos estudos, ele influenciou os monges da Idade das Trevas, os quais continuaram copiando manuscritos enquanto a capacidade de ler e escrever declinava em toda a Europa.

Muitos historiadores notaram a grande influência que o cristianismo teve sobre a Escócia. 

Columba, como o primeiro grande evangelista da Escócia, pode ser contado entre as testemunhas que levaram os vários pregadores, missionários e escritores saídos daquela pequena porção de terra em direção a tantos outros povos.

sábado, 16 de abril de 2022

Acontecimentos mais importantes da história do Cristianismo.

529 Bento de Núrsia estabelece sua ordem monástica

Depois que o cristianismo foi aceito no governo de Constantino, foi difícil distinguir entre os que seguiam a Cristo, pois essa era a atitude mais popular a ser adotada, e os que tinham fé verdadeira. 


O resultado foi que muitos cristãos zelosos buscaram se separar das massas, afastando-se delas.

Eremitas como Antão tornaram-se famosos por suas façanhas de autonegação. 

Viviam sem comida e sem dormir para buscar a santidade. 

Ficavam em pé por horas enquanto oravam e chegaram até mesmo a viver no topo de pilares. 

Os que haviam se cansado da igreja, que fazia muitas concessões e estava carregada de pecado, sentiram atração pelo comportamento bizarro que parecia provar a dedicação dos eremitas a Deus.

Por volta do ano 320, Pacômio deu origem ao monasticismo comunal. 

Ciente de que a tendência rumo à autonegação poderia sair do controle e até mesmo degenerar em uma disputa espiritual, Pacômio se esforçou para regulamentar o estilo de vida asceta, permitindo a vida simples de autonegação que tivesse limites. 

Outros, como Basilio, o Grande (330-379), e os cristãos irlandeses, também fundaram comunidades monásticas.

Porém, Bento de Núrsia se tornou a verdadeira força por trás do monasticismo europeu. 

Ele nasceu em uma família italiana de classe alta e, ainda jovem, foi estudar em Roma. 


Contudo, a cidade que tinha a reputação de ser uma das mais cristãs do mundo era considerada por ele imoral e frivola. Aborrecido com esse fato, Bento partiu e se tornou eremita.

Adquiriu grande reputação por sua espiritualidade, a ponto de famílias trazerem seus filhos para que fossem treinados por ele na vida cristã. 

Com bastante relutância, o eremita concordou em se tornar abade. 

Quando se mostrou austero disciplinador, porém, o entusiasmo que as pessoas tinham por Bento arrefeceu. Um monge chegou até mesmo a tentar envenená-lo. 

Temendo por sua vida, Bento se escondeu em uma caverna e, depois, deixou a região. Contudo, seus problemas ensinaram uma importante lição: a disciplina é boa, mas expõe a fragilidade da natureza humana.

Por volta do ano 529, Bento se mudou para o monte Cassino onde demoliu um templo pagão que ainda estava em uso, para construir um mosteiro no lugar.

Se Bento apenas tivesse dado um monastério para a igreja, provavelmente não seria tão lembrado. 

A regra que ele escreveu para governar aquele mosteiro foi, de longe, muito mais importante que o edifício. Bento concebeu o mosteiro como uma comunidade autocontrolada e autossustentada que tinha seus campos e oficinas. 

Ele queria criar uma “fortaleza espiritual” para assegurar que os monges não precisassem ir a qualquer outro lugar para satisfazer as necessidades da vida. 


Dentro do confinamento da comunidade, os monges teciam as próprias roupas, plantavam a própria comida e faziam sua própria mobília. 

Vagar fora do perímetro do mosteiro era considerado grande perigo espiritual.

Como Bento já vira antes, alguns dos pretensos monges tinham um comprometimento muito fraco. 

Assim, criou noviciado de um ano, um tempo no qual o monge poderia decidir se era realmente o que queria. 
Somente depois desse período de testes é que ele faria os três votos que o desligariam completamente do mundo. 

O voto de pobreza exigia que ele entregasse todos os seus bens pessoais à comunidade; o voto de castidade o levava a renunciar a todos os relacionamentos sexuais; o voto de obediência era promessa de obedecer sempre aos líderes do mosteiro.

A adoração desempenhava papel muito grande na vida monástica. 

A Região de São Bento prescrevia sete cultos por dia, incluindo-se um culto de vigília que acontecia às duas horas da manhã, considerado muito importante. 

Cada culto tinha cerca de vinte minutos e consistia praticamente da recitação de salmos.

Além da adoração pública, os monges tomavam parte em devoções pessoais: leitura da Bíblia, meditação e oração. 
Embora muitos acusassem as comunidades monásticas de se afastarem do mundo, os monges sempre oravam por quem estava fora de seus muros.

“O ócio é o inimigo da alma”, declarava a Regra. 

Assim, todos os monges tinham de tomar parte no trabalho manual, incluindo a preparação de alimentos.

Embora essa vida de trabalho, oração e adoração possa parecer tediosa, foi uma tentativa de criar uma vida ordeira sem ir a extremos.

Bento também tentou disponibilizar a vida santa aos seres humanos comuns. 

Em sua regra, escreveu: “Se parecemos muito severos, não se assuste e não saia correndo. 

A entrada para o caminho da salvação deve ser estreita. Contudo, conforme você progride na vida da fé, o coração se expande e anda mais rápido com a doçura do amor por todas as veredas dos mandamentos de Deus”.

Vivendo em uma era cruel e instável, o monasticismo beneditino forneceu refúgio aos que eram sensíveis à religião. Embora a Europa Ocidental tivesse se tornado nominalmente cristã, a maior parte da população ainda tinha comportamento pagão. Bento ofereceu uma vida calma, nobre e cheia de propósitos que não estava disponível fora do claustro. Muitas pessoas podem não simpatizar com esse afastamento, mas é certamente compreensível por que muitos buscavam a paz em meio a um mundo vulgar.

Bento deu ao monasticismo um lugar permanente na Europa ocidental — para o bem ou para o mal. Sua Regra orienta comunidades monásticas há vários séculos e ainda está em vigência atualmente.

quinta-feira, 14 de abril de 2022

Acontecimentos mais importantes da história do Cristianismo.

451 O Concilio de Calcedônia

Embora o Concilio de Nicéia tenha proclamado que Jesus era plenamente Deus, a igreja ainda precisava compreender sua natureza humana. 




De que maneira o humano e o divino se inter-relacionavam no Filho?

A resposta viria por meio de um dos mais exaltados jogos de poder da igreja.

Conforme a igreja crescia, as principais cidades do império recebiam influência teológica (e, por causa disso, seus arcebispos foram chamados patriarcas). 

Alexandria e Roma geralmente ficavam no mesmo lado das questões, opondo-se a Antioquia e Constantinopla. 

A combinação de política e teologia era algo especialmente poderoso.

A influência grega permeava os pensamentos da Escola Alexandrina. 

Muitas pessoas de Alexandria tinham um histórico filosófico de origem grega. 

Teológicamente, acreditavam que Jesus fora plenamente humano, mas eles tinham a tendência de enfatizar mais o Cristo como Palavra divina (Logos) que o Jesus humano. 

Quando essa questão era levada ao extremo, existia a tendência de obscurecer a humanidade de Jesus a favor de sua divindade. 

Apolinário, um dos principais defensores de Alexandria, lutara bravamente contra heresias como o arianismo e o maniqueísmo. 

Contudo, cometeu um deslize, equivocando ao afirmar que, na encarnação, o Logos divino substituíra a alma humana, de modo que a humanidade de Cristo fora apenas corpórea. 

Em 381, o Segundo Concilio Ecumênico condenou esse ensinamento.

A Escola de Antioquia apresentava a tendência de se concentrar na humanidade de Jesus. 

Embora Jesus fosse divino, eles diziam que sua humanidade fora completa e normal.

Ao envolver-se em uma disputa sobre a veneração de Maria, Nestó-rio, patriarca de Constantinopla, atacou a oposição de Apolinário. 

Para ele, a idéia de que Maria fora a “Portadora de Deus” era muito parecida com a idéia de Apolinário. 

Cirilo, patriarca de Alexandria, ansioso por abalar o poder de Constantinopla, acusou o patriarca de dizer que Jesus tinha duas naturezas distintas em seu corpo.

Em 431, no Terceiro Concilio Ecumênico em Éfeso, o maquinador Cirilo conseguiu que Nestório fosse deposto antes que ele e seus amigos pudessem chegar ao local das reuniões. 

Quando os clérigos ausentes chegaram, condenaram Cirilo e seus seguidores sob a liderança de João, o patriarca de Antioquia. 

O imperador Teodósio, que convocara o concilio, foi pressionado e terminou por exilar Nestório.

Adicione a essa situação volátil um clérigo que levava a ênfase alexandrina às últimas consequências. 

Eutíquio, chefe de um mosteiro próximo a Constantinopla, ensinava uma idéia que passou a ser chamada monofisismo (de mono, “um”, e physis, “natureza”). 

Esse ponto de vista sustentava que a natureza de Cristo estava perdida na divindade, “assim como uma gota d’água que cai no mar é absorvida por ele”.

O patriarca Flaviano de Constantinopla condenou Eutíquio por heresia, mas o patriarca Dióscoro, de Alexandria, o apoiou. 

A pedido de Dióscoro, Teodósio convocou outro concilio, que se reuniu em Éfeso, em 449. 

Esse concilio proclamou que Eutíquio não era herege, mas muitas igrejas consideraram esse concilio inválido. 

O papa Leão ι rotulou aquele encontro de “Sínodo de Ladrões” e, atualmente, ele não é considerado um concilio ecumênico válido.

Leão pediu ao imperador que convocasse outro concilio de modo que a igreja, como um todo, fosse representada. 

Esse concilio aconteceu na cidade de Calcedônia, próxima de Constantinopla, no ano de 451, atraindo cerca de quatrocentos bispos, frequência superior à de qualquer outro concilio já realizado até aqueles dias. 

Dióscoro sempre foi uma figura um tanto sinistra. 

Agora, nesse concilio, ele foi excomungado da igreja com resultado de suas ações no “Sínodo de Ladrões”.

Durante o Concilio de Calcedônia foi lida uma afirmação sobre a natureza de Cristo, chamada tomo [carta dogmática], de autoria do papa Leão i. 

Os bispos incorporaram seu ensinamento à declaração de fé que foi chamada de Definição de fé de Calcedônia, Nessa Definição de fé, Cristo “reconhecidamente tem duas naturezas, sem confusão, sem mudança, sem divisão, sem separação […] a propriedade característica de cada natureza é preservada e se reúne para formar uma pessoa”. 

Essa concepção condenava as ideias de Apolinário e Eustáquio, além das posições atribuídas a Nestório.

Calcedônia foi o primeiro concilio no qual o papa exerceu papel importante. 

Cada vez mais o foco da batalha seria entre Roma e Constantinopla. 

Calcedônia foi o último concilio que tanto o Ocidente quanto o Oriente consideraram oficial, com relação à definição dos ensinamentos corretos. 

Esse também foi o último em que todas as regiões foram representadas e conseguiram concordar em questões fundamentais.

Embora Calcedônia não tenha resolvido o problema de como Jesus era tanto Deus quanto homem, esse concilio estabeleceu limites ao definir como incorretas certas interpretações. 

O concilio, ao referir-se à posição adotada por Apolinário e Eustáquio, disse: “Qualquer que tenha sido a maneira como isso ocorreu, sabemos que não aconteceu dessa maneira”.