quarta-feira, 13 de abril de 2022

Acontecimentos mais importantes da história do Cristianismo.


432 Patrício é enviado como missionário à Irlanda

Um exescravo que nem mesmo nascera na Irlanda se tornaria a mais eficiente testemunha cristã naquele país. Patrício, filho de pais cristãos, nasceu na Bretanha romana por volta do ano 390. 




Embora nos primeiros anos esse menino não levasse fé tão a sério, começou a orar com fervor aos dezesseis anos, quando foi preso, escravizado e enviado para trabalhar como guardador de porcos em uma fazenda no norte da Irlanda. Para fugir de sua escravidão, Patrício viajou cerca de 320 quilômetros a pé rumo à costa. 

Ali, o capitão de um navio que transportava cachorros de caça concordou em levá-lo como tratador. 

Ele viajou para a França e, de lá, para um mosteiro no Mediterrâneo.

Quando voltou para sua terra natal, Patrício sonhou com as crianças irlandesas implorando para que ele levasse a elas o evangelho. 
“Imploramos que você venha e caminhe entre nós uma vez mais.” Como achava que não tinha a compreensão adequada da fé, Patrício voltou para a França a fim de estudar em um mosteiro. 

Por volta do ano 432, ele voltou à Irlanda.

Poucos anos antes, o monge britânico Paládio tentara converter os irlandeses, mas obtivera pouco sucesso. 

Os anos de escravidão de Patrício entre os irlandeses, aparentemente, o prepararam para ser um homem de coragem que compreendia aquele povo e sabia como pregar para eles.

A lenda obscurece muitos dados da vida de Patrício, mas a história de muitas vilas atesta seu ministério ali. 

Sabemos que o missionário converteu a maioria dos irlandeses ao cristianismo, estabelecendo cerca de 300 igrejas e batizando cerca de 120 mil pessoas. 

Embora Patrício enfrentasse problemas com alguns chefes de tribos hostis e com os druidas — os defensores do velho paganismo — “o povo comum o ouvia com alegria”. 

Não houve um mártir sequer no processo de conversão dos membros daquelas tribos contenciosas.

Usando a natureza, que já haviam adorado no passado, Patrício descreveu a Trindade comparando-a a um trevo. 

A compreensão dos irlandeses de que Patrício agia por Deus quando extirpou a falsa religião e estabeleceu a verdade entre o povo pode ser vista na lenda que diz que ele expulsou as cobras da Irlanda.

Depois de 30 anos de ministério altruísta, Patrício morreu por volta do ano 460. 

Ele nos deixou poucas coisas escritas, dentre as quais podemos destacar o notável hino I bind unto myself today [Hoje constrangido], conhecido como “Brasão de Patrício”.

Muitos anos depois, os missionários da igreja Ocidental chegaram à Irlanda e descobriram uma fé viva naquele lugar. 

Os sacerdotes e monges irlandeses eram estudiosos e missionários notáveis, e a igreja causara profundo efeito sobre as pessoas comuns. 

O clero vivia de maneira simples e devota, muitas vezes em circunstâncias difíceis. 

Embora seus mosteiros fossem despretensiosos, simples estruturas de pedra, o aprendizado e a arte (por exemplo, o extraordinário Livro de Kells) mostravam a piedade extremamente viva dos monges. 

O fato é que esse estilo de vida piedoso alcançou o restante da Europa à medida que levaram a Palavra para fora de seu país.

A igreja da Irlanda se desenvolveu à parte do sistema hierárquico de Roma, pois Patrício evangelizou a nação sem se basear na igreja oficial. 

A igreja irlandesa foi organizada ao redor de mosteiros, o que refletia o sistema tribal da nação. 

Sem o desejo de estabelecer uma burocracia eclesiástica, os abades irlandeses encorajaram seus monges a levar adiante o “verdadeiro negócio” da igreja: pregar, estudar e ministrar aos pobres.

A Irlanda só se tornou católica por volta do ano 1100, quando o papa deu a Henrique II, rei da Inglaterra, a soberania sobre a Irlanda. 

Em sinal de admiração pela maneira como Patrício trabalhara na conversão dos irlandeses, a Igreja Católica o canonizou.

sábado, 9 de abril de 2022

Acontecimentos mais importantes da história do Cristianismo.

1054 O cisma entre Oriente e Ocidente


As igrejas do Oriente e do Ocidente separaram-se no transcorrer de vários anos. 

O que um dia fora uma única igreja, paulatinamente se dividiu em duas identidades distintas.


Diferenças quanto a detalhes insignificantes ampliaram o conflito. O Oriente usava o grego, ao passo que o Ocidente utilizava o latim, graças à Vulgata e aos teólogos ocidentais que escreveram nessa língua. 

As formas de culto eram diferentes: o pão usado na comunhão, assim como a data para a Quaresma e a maneira pela qual a missa deveria ser celebrada eram também distintas. 

No Oriente, o clero podia se casar e usava barba. 

Os sacerdotes ocidentais não podiam se casar e apresentavam o rosto completamente barbeado.

As teologías eram diferentes. O Oriente se sentia desconfortável com a doutrina ocidental do purgatório. 

O Ocidente usava a palavra latina filíoque “e do Filho” no Credo niceno, depois de que a cláusula sobre o Espírito Santo estabeleceu que o Espírito “procede do Pai”. 

Para o Oriente, essa adição era heresia.

Diferenças que já existiam havia séculos explodiram devido a dois homens de temperamento obstinado. 

Em 1043, Miguel Cerulário tornou-se patriarca de Constantinopla. 

Em 1049, Leão IX tornou-se papa. Leão queria que Miguel — e, por meio dele, a igreja oriental — se submetesse a Roma. 

O papa enviou representantes a Constantinopla, mas Miguel se recusou a encontrar-se com eles. 

Desse modo, os representantes excomungaram Miguel em nome do papa. 
O patriarca respondeu fazendo o mesmo com os representantes do papa, excomungando-os.

Por meio de declarações recíprocas de que o outro não era verdadeiro cristão, os dois bispos criaram um cisma. 

Entretanto, não foram só eles que provocaram essa separação. 

As partes conflitantes tinham uma história de diferenças, que jazia na base desse desentendimento. 

O cisma foi o ato final que reconheceu essas distinções.

Como dizia o Credo, os dois lados acreditavam “na igreja una, santa, católica e apostólica”. 

Em 1089, o papa Urbano tentou fechar a ferida revogando a excomunhão do patriarca. 

Ele também promoveu a primeira Cruzada como meio de reunificar o Oriente e Ocidente, mas isso não deu certo.

Os séculos posteriores assistiram a tentativas de reunir as igrejas, mas nenhuma delas foi bem-sucedida. 

A curta “reunião” de 1204 aumentou a hostilidade. 

Em 1453, quando os turcos muçulmanos tomaram Constantinopla, alguns cristãos orientais afirmaram que preferiam os muçulmanos aos católicos. 

O cristianismo unido parecia impossível.

Embora a diferença entre as duas igrejas possa parecer algo que não se relaciona totalmente com o que é essencial, no coração da disputa estava a questão do poder. 

Em uma época que via a autoridade dos bispos como chave para a estabilidade da igreja, não poderia haver duas pessoas reivindicando a mesma autoridade. 

Por não chegarem a um acordo, o Oriente e o Ocidente começaram a trilhar caminhos separados.

quinta-feira, 7 de abril de 2022

Acontecimentos mais importantes da história do Cristianismo.

988 Conversão de Vladimir, príncipe da Rússia

A conversão de um governante pagão, amante do divertimento, efetivamente levou o cristianismo à Rússia. 

Embora o cristianismo já tivesse alcançado a Rússia na primeira parte do século X, não foi aceito de maneira geral. 
Em 957, Olga, a princesa viúva de Kiev, foi batizada. 

Ela pediu a Oto I o rei germânico, que enviasse missionários a seu país, mas eles provavelmente tiveram pouco sucesso, pois a religião paga prevaleceu.

Vladimir, neto de Olga, estava entre aqueles pagãos. 

Ele construiu diversos templos, atraindo fama para si mesmo em função de sua crueldade e de sua falta de lealdade. 

Ele tinha oitocentas concubinas e cinco esposas e, quando não estava lutando em alguma guerra, caçava e festejava. 

Ninguém o escolheria como o homem que levaria o cristianismo ao seu povo.

Como a maioria dos governantes, Vladimir queria manter seu povo alegre. 

Ele percebeu que poderia fazer isso unificando-os pela religião. 

Desse modo, conta-se que enviou diversos homens para examinar as principais religiões. 

Com suas regras de alimentação restritivas, nem o islã nem o judaísmo agradaram ao príncipe, de modo que ele teve de escolher entre o cristianismo romano e a igreja do Oriente.

Depois de comparecer a um culto na Igreja da Santa Verdade, em Cons-tantinopla, os homens de Vladimir apresentaram o seguinte relato: “Não sabíamos se estávamos no céu ou na terra, pois certamente não existe tamanho esplendor ou beleza em qualquer lugar aqui na terra. 

Não somos capazes de descrever o que vimos. 

Sabemos apenas que Deus habita entre aqueles homens e que seu culto ultrapassa em muito a adoração de todos os outros lugares. 

É impossível esquecer aquela beleza”.

De acordo com a história, devido a essa beleza, Vladimir optou pela ortodoxia. 

É verdade que essa era a religião da nação vizinha, mais poderosa, rica e civilizada: o Império Bizantino. 

Quando a irmã do imperador bizantino, Basilio, foi-lhe oferecida em casamento, Vladimir aceitou, o que ajudou ainda mais a consolidar sua posição junto ao vizinho.

Em 988, Vladimir foi batizado e, um ano depois, casou-se com Ana, mas nenhuma das duas atitudes foi uma mostra de que ele estava se submetendo ao Império Bizantino.

A escolha de Vladimir deixa claro que a igreja russa se concentrava no culto de adoração. 

A ortodoxia oriental sempre teve um apelo estético. 

O nome da religião escolhida pelo príncipe, pravoslavie, significava “verdadeira adoração” ou “a glória apropriada”. Para a mente russa, o cristianismo significa liturgia.

Depois do batismo de Vladimir, sem muitas dificuldades, o povo colocou de lado as velhas religiões. 

Embora a Rússia não tenha se tornado uma nação cristã da noite para o dia, as coisas começaram a mudar. 

Em um primeiro momento, as conversões em massa não aconteceram, mas, com a ajuda dos monges — sempre uma força de primeira grandeza na ortodoxia oriental —, a nova religião começou a fazer com que sua influência fosse sentida.

Graças a Metódio e Cirilo, a Rússia tinha uma liturgia cristã em sua própria língua (o idioma eslavônico). 

As pessoas podiam participar e entender maravilhosa liturgia nas belíssimas igrejas construídas por Vladimir e seus sucessores.

A conversão de Vladimir claramente influenciou seu estilo de vida. 

Ao se casar com Ana, deixou as outras cinco esposas. 

Destruiu também os ídolos, protegeu os oprimidos, criou escolas e igrejas e viveu em paz com as nações vizinhas. 

Em seu leito de morte, doou todas as suas posses aos pobres. 

A igreja grega terminou por canonizá-lo.

terça-feira, 5 de abril de 2022

Acontecimentos mais importantes da história do Cristianismo.

909 Um mosteiro é estabelecido em Cluny

Nos séculos IX e X, a igreja estava doente. 

As lutas políticas causaram várias divisões na Europa. 

Os líderes da igreja buscavam poder e terras, praticavam violência e engano, assim como favoreciam o comportamento libertino. 

Em nada diferiam dos déspotas seculares.

Guilherme (William), o Pio, duque de Aquitânia, fundou um mosteiro em Cluny, que seria uma sociedade independente, livre das lutas de poder do império, sob a proteção do papa. 

O mosteiro seguiria a Regra estabelecida por Bento de Núrsia nos anos de 500: pobreza, castidade e obediência. 

A Regra foi bem recebida. 

Expoentes como Gregorio Magno e Carlos Magno promoveram essa idéia e ela se espalhou rapidamente por todo o império no século IX. 

Ela, porém, nunca conseguiu criar raízes, a não ser em Cluny.

Uma série de líderes capacitados fez com que Cluny funcionasse adequadamente: Berno, Odo, Majólo, Odilo, Hugo. Sob a orientação desses homens, novos mosteiros surgiram na França, Itália e Alemanha, os quais eram considerados “filhos” de Cluny. 

Alguns mosteiros já existentes procuraram a ajuda de Cluny. 
Em uma era feudal, Cluny se tornou o centro de um feudo espiritual. 

Esse mosteiro acumulava um poder muito além de sua idéia original. 

Porém, o tempo era adequado para um movimento de reforma, e Cluny carregava essa bandeira. 

Aquele foi o lugar em que se ergueu a maior edificação do cristianismo ocidental até a construção da Basílica de São Pedro, em Roma. 

Por volta do ano 1110, Cluny liderava cerca de dois mil mosteiros.

O movimento monástico teve e-feito reformador sobre a igreja. 
Os monges exemplificavam e promoviam o comportamento cristão. 
O sacerdócio foi melhorado à medida que monges cluniacenses se tornaram bispos e até mesmo papas. 

Cluny se colocou terminantemente contra a simonía — a compra de ofícios sarce-dotais — e o nicolaísmo — o ato de os sacerdotes tomarem para si concubinas e esposas.

Cluny, no entanto, também conseguiu aparar uma série de arestas da sociedade secular. 

A classe dos cavaleiros começou a desenvolver a bravura cristã. 

A promoção por parte de Cluny de uma “Trégua Divina” — que afirmava que era ilegal guerrear da noite de quinta-feira até a manhã de segunda-feira — de algum modo limitava as contendas mesquinhas entre os nobres, embora o édito, aparentemente, não se aplicasse às batalhas contra os infiéis. 

Uma vez que o papa Urbano π fora prior em Cluny, a influência desse mosteiro pode ter sido responsável, de alguma maneira, pelas primeiras Cruzadas.

O poder de Cluny alcançou seu ápice sob o abade Hugo (1049-1109). 

Quando esteve sob a direção de Pedro, o Venerável (que serviu ali de 1122 a 1156), as coisas começaram a declinar. 

O poder pode ter levado Cluny à direção oposta da simplicidade de Bento. 

A ordem cisterciense, de Bernardo, mais tarde renovaria a força espiritual da igreja.