1523 Zuínglio lidera a Reforma na Suíça
Ao mesmo tempo em que a Reforma seguia adiante na Alemanha, ela também se iniciava na Suíça, sob o comando de Ulrico Zuínglio.
De modo diferente de Lutero, esse sacerdote nunca foi monge e tampouco experimentou uma conversão intrincada. Sua conversão foi um processo intelectual lento, no qual ele passou a entender as Escrituras e a perceber como a Igreja Católica estava distante delas.
Durante os dez anos de serviço como pároco em Glarus, na Suíça, Zuínglio atuou, em duas ocasiões, como capelão de alguns jovens mercenários suíços.
O que viu fez com que fosse contra a prática dos rapazes, que vendiam seus serviços de guerreiros, e, portanto, posicionou-se publicamente contra essa prática.
Para Zuínglio, esse pequeno incidente foi apenas o começo de uma carreira que abrangeria tanto a reforma política quanto religiosa.
Serviu como sacerdote em Einsiedeln de 1516 a 1518. Por ter sido muito influenciado por Erasmo, Zuínglio aprofundou-se no estudo do Novo Testamento grego daquele grande erudito.
Sua pregação começou a ter cunho mais evangélico.
No primeiro dia do ano de 1519, Zuínglio se tornou pastor da principal igreja de Zurique.
Ao chegar, anunciou que, em vez de seguir os textos prescritos no lecionário, pregaria sobre o evangelho de Mateus. Isso foi praticamente um ato de desafio à igreja, embora, naquele momento, ele não tivesse intenção alguma de se separar de Roma.
No mesmo ano, a peste chegou a Zurique, e quase um terço da população da cidade foi vitimada.
Zuínglio fez de tudo para ministrar ao povo, até que ele mesmo contraiu a doença.
Os três meses que levou para se recuperar lhe ensinaram lições sobre a dependência que devemos ter de Deus, algo que mudou sua vida completamente.
Zuínglio continuou a pregar que encontrava na Bíblia, mesmo quando o ensino era diferente dos rituais e das doutrinas da igreja.
Essa situação chegou a seu ápice em 1522, quando alguns de seus paroquianos desafiaram as regras da igreja sobre comer carne durante a Quaresma.
Zuínglio os apoiou pregando um sermão sobre a liberdade.
O governo civil de Zurique aceitou a paz, mas, ao fazê-lo, terminou por tomar a igreja nas próprias mãos.
Logo no começo do ano seguinte, eles promoveram um debate público sobre assuntos de fé e de doutrina, em que a idéia de Zuínglio prevaleceu.
Em 29 de janeiro de 1523, o conselho da cidade decretou: “Que o sr.
Ulrico Zuínglio continue e prossiga, como antes, com a proclamação do santo evangelho e da pura e santa Escritura de acordo com sua capacidade”.
No decorrer de dois anos, os debates continuaram e as reformas se expandiram: sacerdotes e freiras poderiam se casar, imagens foram removidas das igrejas e, para firmar a ruptura final com a Igreja Católica, a missa foi substituída por um culto simples no qual a maior ênfase era dada à pregação.
Zuínglio enfrentou oposição não apenas da Igreja Católica, mas também dos anabatistas — grupo mais radical de reformistas — que queriam ver as reformas em Zurique acontecer de forma mais rápida.
Embora muitos reformadores concordassem entre si no sentido de que desejavam a fé mais bíblica, eles, muitas vezes, diferiam quanto ao real significado dessa fé mais bíblica e de como alcançá-la.
Em 1529, Filipe, o landgrave de Hesse, reuniu Lutero e Zuínglio.
Filipe queria que o movimento reformado fosse coeso com relação à questão militar, política e espiritual.
Para esse fim, trouxe os dois homens a Marbur-go.
Das quinze questões doutrinárias que discutiram, Zuínglio e Lutero concordaram em catorze.
A eucaristia foi o ponto de discórdia: Zuínglio via esse ato como o recebimento “espiritual” do corpo de Cristo, ao passo que Lutero o via em termos mais concretos.
O encontro que objetivava a união dos dois grupos protestantes resultou, na verdade, em uma ruptura ainda maior.
O movimento reformista de Zuínglio se espalhou principalmente na porção alemã da Suíça, chegando, finalmente, a Genebra, de língua francesa, e pavimentando o caminho para o trabalho de Calvino naquela região.
Entretanto, Zuínglio ainda enfrentava a oposição católica nos cantões rurais, o que terminou por levá-lo a uma batalha.
O clérigo, que pregou contra os mercenários, uniu-se às tropas de Zurique como soldado, empunhando armas, e morreu em 11 de outubro de 1531, na Batalha de Kappel.
Seu corpo foi esquartejado e desonrado por seus inimigos.
Essa foi apenas uma parte da série de lutas religiosas que seriam travadas nos cem anos que se seguiram.
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